“Dar a ver é sempre inquietar o ver, em seu ato, em seu sujeito.” Didi-Huberman Fugindo da rotina, dos hábitos, dos estereótipos, como o cotidiano é observado? Se estranha o familiar?Se rompe o reconhecível? Se vê o constantemente invisível? Assim constituiu-se o cerne da mostra “Pequenos Delitos” , realizada no Porão do Paço Municipal de Porto Alegre, de 12 de Dezembro de 2007 a 18 de Janeiro de 2008, por iniciativa da SEcretaria Municipal da Cultura da cidade. Aademais de buscar rupturas de significação dos objetos comuns do dia-a-dia do centro da cidade de Porto Alegre, visa restaurar simbologias, tanto de crenças diversas, como da própria história da arte, concretizadas em materiais específicos. Atuando junto a microcomunidades do centro da cidade, convivendo, contatando e estabelecendo diálogos com estas, o trabalho desenvolve-se sob uma espécie de Estética da Continuidade, onde a obra insere-se em um movimento contínuo de agregação de idéias relativas ao dia-a-dia comum, mas singular, dos indivíduos do local pesquisado, apresentando-se não como resultado final, mas como uma cadeia contínua de interligações com o entorno. Através de signos semânticos, a mostra surge na tentativa de aproximar-se do cotidiano do espectador, seja ele transeunte, trabalhador, morador do centro da cidade ou não, resgatando história, espaço e contexto, refazendo ações, recriando criações de sua experiência diária e buscando sua identificação com a obra ao assemelhar esta com as coisas comuns. Possuindo, de certa forma, um caráter barroco, as peças associam axiologicamente este período e estilo da história da arte às questões contemporâneas da área, trazendo à tona “o paradoxal, a abertura interpretativa, a mutabilidade, a valorização do detalhe e do pormenor e a menor rigidez das homologações estéticas, morfológicas e éticas” ( Brandão, 2000), comuns à ambos períodos. Pequenos Delitos, que traz no título o crime aos quais eram condenados os prisioneiros do Porão do Paço Municipal, no século XIX, é uma mostra que possui em sua base a idéia de que o significado e o sentido de um objeto artístico nem sempre está necessariamente contido nele, mas sim emerge de seu contexto e, “tendo em vista que, em uma cultura tudo está entrelaçado, basta modificar um de seus elementos para que esta alteração inicial determine outras, imprevisíveis, na maioria dos casos” (Bastide, 1971).
Porão do Paço Municipal-Porto Alegre
De 12 de Dezembro de 2007 a 18 de Janeiro de 2008
De 12 de Dezembro de 2007 a 18 de Janeiro de 2008